Uma história de Pedra Branca

Uma história de Pedra Branca

A história deste lugar no território de Vargem Alta baseia-se em uma bela comunidade quilombola, localizada no interior de Vargem Alta, que chama muita atenção por suas belas matas, por ter abrigado muitos ex-escravos no passado e por abraçar não só a população negra como também a indígena, italiana, entre outras…

Esse local tem inúmeras pedras brancas que dão origem ao nome da comunidade quilombola.

Eu irei começar com a história do seu Arlindo, morador da comunidade no século XX, o mesmo iria fazer uma viagem muito longa sem contar a ninguém de sua família, esposa e filhos.

Essa história já foi contada em um filme da comunidade escrito por Sheila Altoé que reside na comunidade de Vargem Grande, no município de Vargem Alta.

Nesse filme, por coincidência, eu, Pedro Afonso, tive a alegria de participar encenando um personagem, o filho do seu Arlindo, o dono de um casarão muito antigo. Ter participado deste filme me fez voltar no tempo e fazer parte dessa história.

No casarão onde a família se hospedava, rolava um boato um tanto assustador, pois naquela mesma casa anos atrás vivia um dono de engenho chamado Garcia D’ávila, dono de uma legião de escravos nos anos 1784 a 1816, esse homem era muito temido pelo que fazia com seus escravos que eram desobedientes e não cumpriam suas ordens.

No ano de 1789, houve um castigo tão maldoso e impiedoso que depois do acontecido nenhum dos seus escravos ousava o enfrentar, um escravo cujo nome era Habib, o significado do nome em português é “meu amor”, não obedeceu a filha de Garcia pelo simples fato de ela querer mudar o nome dele para o nome de seu animal que tinha falecido meses atrás. Como Habib não concordava com a ideia, quando ela perguntava qual era o nome do mesmo ele sempre repetia:

– O meu nome é Habib.

Depois de repetir várias vezes, a filha chamou seu pai que estava dormindo dentro de sua casa e este no mesmo instante acordou e foi para fora ouvindo da filha o que estava acontecendo.

Em seguida, o pai foi para o porão da casa onde vivia todos os escravos, pegou um chicote e chamou todos os escravos, que permaneciam dentro do porão, para fora, depois de ter reunido todos de sua família e os seus escravos, Garcia amarrou Habib de costa para uma árvore, pegou o chicote e o espancou fazendo a simples pergunta:

– Qual o seu nome?

E o escravo respondeu : 

– O meu nome é Habib. – Disse ele bem alto.

Depois de um longo tempo sendo espancado pelo dono e negando o nome que queriam dar a ele, Garcia tomou uma decisão que se Habib o desobedecesse outra vez ele deceparia sua cabeça no porão do casarão, onde então dormiam todos os escravos. de modo que perguntou pela última vez: ”Qual é o seu nome?”. E o escravo com as costas toda ferida respondeu pela última vez: ”O meu nome é Habib, esse é o nome que minha falecida mãe me deu e ninguém vai tirar isso de mim”.

Com a decisão tomada Garcia levou Habib ao porão, o amarrou em uma cadeira, tapou sua boca com um cano e foi pegar o machado mais afiado da casa para decepar a cabeça do mesmo na frente de todos.

Quando pegou o machado e o colocou ao lado da cabeça de Habib ele disse: “Essa é a sua última chance para se arrepender”. Habib pela última vez responde:

“Eu prefiro morrer do que negar quem eu sou e pode ter certeza eu vou amaldiçoar você e sua família até a última geração”.

Garcia ficou pasmo com a bravura do escravo, ele amarrou um lenço em sua boca e tirou-lhe a vida, todos ficaram chocados com o que o chefe tinha feito com Habib.

Meses depois foi ouvido gritos na casa de Garcia e quando chegaram lá, estavam ele e sua filha mortos, seus cadáveres em cima do tapete da sala e depois deste dia muitos diziam que Habib, o escravo falecido, havia matado os dois e que agora a casa era amaldiçoada pelo escravo e ninguém tinha coragem de pisar naquele casarão outra vez.

A lição de tudo isso é que nunca mude a pessoa que você é, honre sua família, sua cultura, sua história e sua gente. Até nossos dias se contam esse caso entre os moradores de Pedra Branca, um lugar onde olhar para sua paisagem é também olhar para suas histórias e aprender lições para toda vida.