Um mistério atrás de um conto

O sol já estava se despedindo e toda a beleza de fim de tarde estava dando espaço para o vento gelado, onde obrigava até os passarinhos a se recolherem nos seus ninhos. Uma casa simples, no interior das montanhas capixabas, abrigava a delicadeza de um povo genuíno e hospitaleiro. Foi alí, na casa dos meus avós que tive os melhores momentos da minha infância. Aquele lugar com uma mata densa ao lado, com passáros e animais de diversas espécies, trazia um ar bucólico e sereno. Poder estar alí nesse final de tarde me fazia muito bem. Meu avô tinha sempre o mesmo ritual ao entardecer, arrumava sua cadeirinha na varanda, pegava seu casaco preto, em seguida completava meio copo com café fresco e com um sorriso sutil me fazia viajar nas suas histórias.

Na maior parte das vezes seus contos se repetiam e falavam sobre seus antigos trabalhos, as festas que frequentava, os lugares e pessoas que conhecia. Porém hoje notei seu semblante carregado. estava pensativo e disperso, parecia estar relembrando alguma situação desagradável. Procurei saber o que afligia seus pensamentos e ele iniciou dizendo que antigamente ocorriam situações misteriosas que hoje em dia as pessoas duvidam e encaram como meras lendas e contos. Neste mometo compreendi que se tratava de algo novo a ser contado. Me acomodei de forma confortável e disse para prosseguir.

Meu avó relatou então, que na época dos seus vinte e poucos anos era frequente aos sábados à noite, ele e seu irmão sairem para dançar forró. Gostavam de frequentar um vilarejo que ficava a uns quatro quilômetros de onde morava. A situação dificil da época exigia que se deslocassem a pé até o local, mas nada tirava o vigor e entusiasmo presente nesses momentos.

Em uma noite corriqueira, voltando de uma festa os irmãos caminhavam tranquilamente pela remota estrada, sob o clarão do luar. Quando subitamente ouviram rugidos vindos da mata, eram barulhos aterrorizantes de uma animal que parecia estar correndo muito rápido. Amedrontados esperaram que o ambiente aquietasse para prosseguirem a caminhada até em casa.

Finalmente em casa, tudo parecia estar calmo e o assunto ficado para trás. Porém os cachorros do quintal começaram acoar e logo surgiram barulhos fortes de passos parecidos com os de cavalo correndo. Imediatamente os irmãos aproveitaram uma brecha na janela da sala para ver o que estava acontecendo. Ficaram atônitos, viram um ser de uns dois metros de altura, peludo, orelhas pontudas, cara e focinho de pastor alemão e olhos amarelados absurdamente brilhantes. A criatura parecia estar desordenada com as latidas dos cachorros, deu uma volta ao redor da casa e desapareceu entrando na mata fechada.

Voltando para minha realidade vi meu avó acrescentando mais café o copo e fixando seu olhar na lua cheia que iluminava a mata ao nosso redor. Mas eu ainda não estava conformado e dúvidas me pertubavam. Porém poucas foram as palavras que obtive como explicação e o que pçude perceber é que misterios existiam por trás disso tudo. Alguns chamavam de lobisomem, outros de criatura, outros porém preferiam não acreditar, mas algo enigmático intrigou meu avô por todo esse tempo. Algo que o fez pensar que a natureza abriga muitos mistérios e que muitas vezes fogem da nossa compreensão.